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 Revista Corpo a Corpo - Reportagem 2011

Vivências de uma terra flamenca - Reportagem 2013

Ela encerrou 2012 com o espetáculo “Recuerdos Andaluces: Vivências de uma terra flamenca”, onde compartilhou as lembranças de sua recente viagem à Espanha, coreografando e dirigindo suas alunas, em janeiro de 2013 fundou a Cia Al’Aire Flamenca e segue esse cuidadoso trabalho juntamente com a carreira de fisioterapeuta. Gabriela Menezes nos conta sobre como se apaixonou pela arte flamenca e também fala da não padronização de corpos nessa dança.

 

 

O que viu e experimentou na dança flamenca que lhe fez apaixonar-se por essa arte?
Na realidade iniciei a Dança Flamenca por um acaso. Já fazia Ballet Clássico e Jazz na época, e como tinha um pouco de sobrepeso, minha mãe me orientou a fazer mais uma modalidade de dança para perder algumas calorias. Foi então que resolvi ver uma aula de Dança Flamenca e me apaixonei de imediato pelo trabalho de pés, mãos, pela música envolvente e resolvi iniciar meus estudos sem pretensão de um dia tê-la como profissão. Aos poucos fui largando as outras modalidades e permaneci apenas com o Flamenco, pois o Flamenco não é apenas uma modalidade de dança; quando se pensa em Flamenco se pensa em uma arte completa, com uma história riquíssima, com expressões artísticas próprias. Se pensa em uma arte que está sempre em evolução, de conhecimento infinito, e o que me fez apaixonada por essa arte desde o início foi a capacidade de poder expressar através dela todas as minhas emoções, e por ela permitir e abrir portas para todos sem distinção de raça, cor, sexo, biótipo e principalmente idade.

 

 

Em 2012 teve a experiência de ir para Espanha e de estudar com grandes mestres, o que você ressaltaria de suas vivências nessa viagem que acredita atravessar sua produção artística?
Foi uma experiência de grande valia e de extrema importância para meu aprimoramento técnico e artístico. Todos os anos busco me atualizar, pois o Flamenco está sempre em evolução, e pelo menos uma vez por ano estudo com grandes mestres espanhóis que vem até o Brasil para obter um pouco da técnica e estilo de baile de cada um. No caso da viagem à Espanha, além de procurar essa atualização, fui em busca das raízes do Flamenco. Fui até as origens dessa arte magnífica, o que me fez ainda mais apaixonada por ela. Sou apaixonada pela arte flamenca como um todo, portanto não só o baile, mas o cante, o toque, fui atrás de mais conhecimento, pois gosto de estudar a fundo a história desta arte. Costumo dizer que foi uma viagem onde respirei Flamenco da hora que acordava ao momento em que ia dormir. Além dos cursos que fiz, fui à vários tablaos, muitas bibliotecas em busca de materiais, conheci Madri, Sevilla e Jerez de La Frontera onde participei do XVI Festival de Jerez, o festival mais importante de flamenco que existe, e o qual, além de fazer aulas, acompanhei toda a primeira semana de espetáculos. Voltei para o Brasil extasiada com tanta informação, com tanto aprendizado e ainda mais apaixonada por esta arte que é a minha vida.

 

 

Como você pensa o trabalho de coreógrafa em dança étnica? Até onde você cria e faz trabalhos mais contemporâneos, pensando em suas criações no espetáculo “Recuerdos Andaluces: vivências de uma terra flamenca”?
O baile, o cante e o toque, possuem relação direta quando se pensa em coreografar Flamenco. Portanto, para coreografar é necessário saber que palo (ritmo) que se deseja trabalhar, pois cada palo tem sua história, sua carga emocional e sua particularidade, além das suas características rítmicas próprias. Portanto é necessário ter domínio do compás (compasso) de cada palo, e ter conhecimento do cante e do toque para que se possa realizar um bom trabalho, pois o baile Flamenco é composto de uma estrutura que deve ser seguida quando se coreografa.
Para criação de um espetáculo, é necessário muita pesquisa em relação a temática a ser abordada e a proposta do trabalho. No espetáculo “Recuerdos Andaluces: vivências de uma terra flamenca”, retratei minhas emoções e vivências na Andaluzia e as impressões que cada uma delas me causou. No que se refere a fazer trabalhos mais contemporâneos, isso é resultado da busca e constante atualização que faço e pelas inspirações que tenho do estilo de baile de grandes mestres e bailaores atuais como: Rafaela Carrasco, Manuel Liñán, Marco Flores, Rafael Campallo, Pillar Ogalla y Andrés Pena, entre tantos outros.

“… acho que o Flamenco, mais uma vez, abrange todo e qualquer padrão de corpo, sem distinção de biotipo ou peso, possibilitando à todos adentrarem esse universo…”

O que você pensa da padronização de “corpos eleitos” como acontece em algumas modalidades da dança?

De certa forma pode servir de motivação para que os praticantes da dança queiram cuidar do seu corpo e investir na sua saúde para obter um corpo desejável. Quando me refiro ao corpo desejável, digo da vontade que vem de cada mulher de ter um corpo melhor. Não falo do desejável imposto pela mídia e pelos veículos de comunicação, mais sim o que cada mulher deseja de si mesma. No entanto, estes estereótipos eleitos, de certa forma, podem excluir as pessoas da prática dessas modalidades. Às vezes por não terem esses “requisito” (se assim podemos caracterizar) as pessoas se sentem mal e até desistem da prática da dança por não se encaixarem nesse padrão imposto. Isso impossibilita a universalização da arte e da dança, de possibilitar que à ela todas tenham acesso, independente de seu biotipo. Nesse caso, acho que o Flamenco, mais uma vez, abrange todo e qualquer padrão de corpo, sem distinção de biotipo ou peso, possibilitando à todos adentrarem esse universo, necessitando apenas de uma característica fundamental: a força de vontade.

 

 

O que é feminilidade para você?

Para mim feminilidade significa exaltar a beleza e a inteligência feminina. É ter força e sabedoria para ser mulher em todos os sentidos. É ser vaidosa em ser fútil, é ser forte sem ser bruta, é ser autêntica pra deixar que sua personalidade aflore e seus sentimentos se mostrem sem medo ou receio. É saber ser o melhor de ser mulher.

 

 

Entrevista concedida para o Site Mulheres na Dança em Abril de 2013.

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